sábado, 16 de agosto de 2008

carta pastoral g 12

Carta Pastoral do Colégio Episcopal sobre o G-12
Apresentação
O Colégio Episcopal frente a um dos últimos movimentos doutrinários no
meio Evangélico, chamado G-12, vem junto ao povo Metodista colocar, de modo
breve, nossa visão doutrinária acerca deste movimento, e reafirmar nossa herança
bíblica e Wesleyana. Sabemos que nem sempre podemos dar resposta a todos os
movimentos que surgem no meio evangélico brasileiro, mas este movimento
afetou algumas de nossas igrejas e pastores/as, por isso sentimo-nos no dever de
compartilhar esta carta pastoral.
Nela tentamos ser justos, claros e firmes naquilo que, como Bispos e Bispa,
entendemos ser a sã doutrina. “Obedecei aos vossos guias e sede submissos
para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para
que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós
outros.” (Hb 13.17). “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes
deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus
ouvintes.” (1Tm 4.16).
Orientação Pastoral sobre o G-12
O termo G-12 é uma importação dos EUA, e tenta designar uma igreja
organizada em células, ou grupos de 12 pessoas, orientadas por um líder. Há
alguns anos este termo e método foi assumido na Colômbia pelo Pr. Cezar
Castelano e sua esposa Cláudia Castelano, o qual, segundo declarações deles
mesmos, tomou por base o programa da Igreja do Dr. David Y. Cho, ou seja,
“Igreja em Células no Modelo dos Doze”. No entanto, esta metodologia de
discipulado tem trazido dificuldades pastorais e desvios doutrinários, semeando
divisões em várias Igrejas que assimilaram tal programa.
Entre os desvios doutrinários, que ensina o Pr. Cezar, através da proposta
do G-12, os quais consideramos que contrariam as doutrinas bíblicas e
wesleyanas estão os seguintes:
- A proposta está centrada numa aparição do Senhor a ele, designando-o
como um iluminado e enviado de Deus para o governo dos 12. Desde aí criou a
Missão Carismática Internacional.
- Preocupa-me o fato de que não diz em seu livro que alguém julgou a
visão, conforme recomenda a Bíblia, nem nos dá qualquer indicação bíblica para
que o reconheçamos como o mensageiro de Jesus Cristo para toda a Igreja. (cf.
1Co 14.29-33). Em nenhum momento, o Novo Testamento nos indica que surgiria
um iluminado, recebendo diretamente de Jesus uma palavra para toda a Igreja.
Todas as grandes heresias nasceram desse modo. Assim foi Joseph Smits,
do movimento Mórmon.
A outra distorção trata-se das três outras aberrações apresentadas por
Cezar Castellanos, ou seja, ele descreve como viu, em três experiências, seu
espírito deixar o corpo. Ele chamou e seu espírito teria voltado, pois ele não
poderia morrer. Trata-se de uma experiência tida como normativa, mas sem base
bíblica para se fundamentar. Tal relato é mais comum no espiritismo.
Trabalha um conceito exegético com o qual nós Metodistas não
concordamos, de que há na Bíblia a palavra Rhema, e a palavra Logos. O Rhema
seria a palavra “revelada” diretamente de Deus, no caso o absurdo é que declara
ser 2 Crônicas 29, relativo a Ezequias, palavra Rhema. Ora Rhema é termo grego,
completamente desconhecido ao hebraico do livro de Crônicas. Aqui, a heresia
dividiria as Escrituras em duas categorias, o que além de ser herético, é histórica e
exegeticamente um absurdo.
Enfatiza a necessidade de todo crente ter o seu Peniel, ou encontro com
Deus. Deus pode e deve ser encontrado a cada dia, por todo cristão; não depende
que criemos condições especiais para encontrá-lo. “Buscar-me-eis, e me achareis,
quando me buscardes de todo o vosso coração.” (Jr 29.13). Nada contra retiros
espirituais, pois eles são bem-vindos e necessários. A distorção do Peniel está em
menosprezar as experiências anteriores, e condicionar o encontro com Deus ao
retiro. Seria um Deus muito pequeno! Os modelos bíblicos de encontro com Deus
vão muito além de Peniel. De maneira especial rejeitamos a idéia implícita para
alguns de que sem o encontro o cristão está numa categoria inferior de cristão.
Isto divide a Igreja do Senhor.
A outra distorção do G12 é que não há espaço para a imensa diversidade
de dons e ministérios, pois no grupo, em casas de família, não há muito espaço
para o exercício como ministério de ação social, tão vital num país como o nosso.
Tampouco não há espaço para a saudável experiência dos grupos societários,
histórico espaço de treinamento e amadurecimento na fé. Não há também espaço
para ministérios proféticos como: a) luta contra o racismo; b) menores infratores;
c) pastoral carcerária. Enfim, não dá para conter nos grupos pequenos os
inúmeros ministérios que o Espírito Santo tem suscitado no corpo de Cristo.
Deste modo a Igreja Metodista é absolutamente incompatível com o
sistema da igreja em célula do G-12; isto porque a nossa visão de que a igreja
local é uma parte do Corpo de Cristo, ou seja, a dinâmica do Espírito Santo
transcende a igreja local. Pois as igrejas carecem dos dons e ministérios umas
das outras, é esta a visão bíblica; vejamos: “Também, irmãos, vos fazemos
conhecer a graça de Deus concedida às igrejas da Macedônia...” (2Co 8.1).
“Esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da
paz; há somente um corpo (a Igreja) e um Espírito...” (Ef 4.3-4ss).
No entendimento do programa do G-12 nós teríamos que acabar com a
infinidade de ministérios que Deus tem levantado entre nós, os grupos societários,
os Concílios, as CLAMs, CoDIAMs, COREAMs e COGEAM. Enfim, teria de acabar
com a Igreja que somos, nossa herança, nossa vida e testemunho, e começar
outra Igreja. Isto não pode ser o propósito de Deus para nós.
O programa do G-12 cresceu em cima de algumas críticas às Igrejas
Evangélicas Históricas, e mesmo algumas Pentecostais Históricas. Há uma severa
crítica às denominações, desconhecendo a herança cristã evangélica e o martírio
que seus pioneiros deram a Evangelização do Brasil.
Eles criticam as denominações, vivem muito mais em torno de sua
manutenção, suas estruturas, comissões e departamentos, do que em função da
missão de ganhar vidas para o Reino. Reconhecemos que esta crítica é, em
alguns casos, procedente, pois algumas destas Igrejas têm perdido a visão
missionária, não crescem, e vivem muito em função de si mesmas. Mas se é
verdade que esta crítica é procedente, a solução encontrada de concentrar a vida
da Igreja em células (grupos pequenos) deforma e diminui drasticamente o que a
Igreja deve ser e, principalmente, o alcance da missão. Trata-se aqui de um grave
desvio doutrinário do tema teológico, que é a eclesiologia, doutrina que trata da
origem e do modo de ser Igreja como Corpo de Cristo. Pois, uma Igreja restrita a
células perde o alcance de impactar a sociedade com sua voz profética, diante
das injustiças diversas cometidas em muitos casos até pelo Estado. O impacto
que a Igreja Primitiva causou ao Estado Romano não foi somente pelas igrejas
nas casas, foi pregação nas praças, areópago e outros lugares públicos, através
de diferentes ministérios, orientados por uma pastoral dada por Paulo, Pedro,
Tiago, enfim, eram ministérios diversos, mas sujeitos a um governo episcopal e
conciliar. Confiram as referências bíblicas: Atos 3.11-12; 4.4; 6.1-7; 8.4-8; 15.1-9;
17.6-7; Romanos 13.1-2; 16.1-2; 1Coríntios 16.1-4; Apocalipse 1.4-5.
É necessário afirmar que nós metodistas temos uma tradição de
discipulado. João Wesley apresentou uma grande preocupação com a vida das
pessoas que aderiam ao movimento metodista. Envolvia os membros do
movimento em grupos menores chamados de “sociedades” ou classes”. Este
método tornou-se uma das marcas do avivamento liderado por João e Carlos
Wesley. Nestas “sociedades” ou “classes” os membros eram nutridos e ganhavam
vitalidade, outra marca do metodismo. Havia entre os membros um sentimento de
unidade e solidariedade.
João Wesley adquiriu este hábito, que transformou em uma das
características do metodismo, desde os tempos de estudante em Oxford, onde
alguns alunos se reuniam em grupos pequenos para estudo da Bíblia, oração e
busca de uma verdadeira santidade do coração e da vida.
Desta forma, a metodologia desenvolvida pelo G-12 não apresenta nada de
novo, pois Jesus organizou um grupo de doze discípulos, outro de setenta, para
passar a visão do Reino de Deus (Cf. Mc 3.13-19; Lc 10.1-4). Paulo também
desenvolveu um programa de discipulado em seu ministério, preparando homens
e mulheres para o pastoreio. (Cf. 2Tm 2.2).
Em que pese os testemunhos de vários líderes evangélicos a favor e contra
o G-12, considerando os equívocos presentes neste método apresentado como
programa de discipulado, damos a seguinte orientação ao povo metodista: Não
entreguemos nossas ovelhas para serem pastoreadas por terceiros. Pastores e
pastoras e demais líderes de ministérios nas igrejas locais, são os responsáveis
pelo rebanho, que está sedento e desejoso de ser pastoreado e aprofundar suas
experiências com Deus. Seguindo a tradição metodista, grupos de discipulado
devem ser organizados em nossas igrejas, sobretudo com a liderança dos
ministérios. Que nestes grupos seja aplicado o modelo wesleyano.
Lembremos que o Programa de Discipulado, em fase de implantação em
nossa Igreja, define discipulado como um estilo de vida que caracteriza a vida das
pessoas alcançadas pela graça de Deus e comprometidas com o Reino de Deus;
método de pastoreio através do qual e, em pequenos grupos, o pastoreio, a
comunhão, a confraternização e a solidariedade são desenvolvidos para a
maturidade cristã dos membros da Igreja; e uma estratégia para o cumprimento da
missão, por meio da integração nos diversos dons e ministérios que visam o
cumprimento da missão que a Igreja recebeu de Deus.
Devemos ter cuidado com os métodos e programas de discipulado que
apresentam outras conceituações que não as definidas anteriormente e que
constam do Manual do Discipulado, série Discipulado – nº 1. O Programa de
Discipulado a ser implantado em nossas igrejas é o que consta deste Manual e os
outros livros da série que estão sendo publicados.
Assim sendo, o Colégio Episcopal, ao analisar as propostas do G-12
declara que elas são incompatíveis com os documentos, doutrinas e caminhada
da Igreja em dons e ministérios; e que pastores e pastoras não têm o direito de
envolver a comunidade local em propostas que não foram avaliadas pelos
respectivos Concílios, ou seja, Regional, Distrital e Local. O/a pastor/a que assim
proceder, estará contrariando a orientação a orientação doutrinal da Igreja, e
atraindo para si toda responsabilidade. Desta forma, estará sujeito ao que
prescreve os Cânones da Igreja Metodista.
Encerramos esta orientação pastoral sobre o G-12 destacando que na
Igreja Metodista a realização de encontros, retiros e acampamentos, que busquem
aprofundar a experiência com a Graça de Deus, crescimento na vida cristã e
maturidade espiritual ou, em outras palavras, que busquem um encontro com
Deus, é legítima e necessária, faz parte da nossa tradição de fé e de
espiritualidade.
Reafirmamos que, de acordo com as Sagradas Escrituras, é Deus quem
busca os seus filhos e filhas e age para abençoa-los/as. No segundo livro da série
Discipulado – nº 04, intitulado Fundamentos da Fé – Pecado e Salvação, o Bispo
Nelson Luis Campos Leite destaca que o nosso encontro com Deus acontece
quando aceitamos esta busca divina e confiamos no amor e na presença de Cristo
em nossas vidas. Os retiros, encontros e acampamentos têm este objetivo, qual
seja, alimentar a experiência do encontro com Deus.
Bispo João Alves de Oliveira Filho – Presidente.
Bispo João Carlos Lopes. Vice-Presidente
Bispo Josué Adam Lazier – Secretário.
Bispo Adolfo Evaristo de Souza
Bispo Adriel de Souza Maia;
Bispo Luiz Vergílio Batista Rosa;
Bispa Marisa de Freitas Ferreira Coutinho;
Bispo Paulo Tarso de Oliveira Lockmann.

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